sábado, 8 de dezembro de 2012
Medo de morrer
desespero é
a lacuna jamais preenchida
é a sempre inerte fase crua da lua.
é a lama entre dois desterros
a Queda suprema o olhar quedo
É QUANDO SE USAM OS SINALIZADORES
é quando acaba a folia
é a quarta-feira
a segunda chance
o respiro indolor que tenta
endoidece
esmorece.
a lacuna jamais preenchida
é a sempre inerte fase crua da lua.
é a lama entre dois desterros
a Queda suprema o olhar quedo
É QUANDO SE USAM OS SINALIZADORES
é quando acaba a folia
é a quarta-feira
a segunda chance
o respiro indolor que tenta
endoidece
esmorece.
Quadrinha da saudade
Eu tenho e quero a fé das carpideiras
Amor de amar pesado, lenta cruz
Será a chama azul por sobre a luz
Sobre o fim, sob a terra derradeira.
Amor de amar pesado, lenta cruz
Será a chama azul por sobre a luz
Sobre o fim, sob a terra derradeira.
quinta-feira, 21 de junho de 2012
Químicas
Qual injusta esta natureza
tão afeita a prata, ouro e cobre.
O que dizer do pobre do astato,
do esquecido polônio? - que veio da Polônia?
Talvez.
É. Parece broma.
Se mesmo o níquel vale mais do que o hélio
Como retirar oxigênio do potássio?
Sim. É preciso ter cálcio.
É preciso ser zircônio neste mundo nióbio e molibdênio.
Ó, metais que rutênios,
Aluminai!
tão afeita a prata, ouro e cobre.
O que dizer do pobre do astato,
do esquecido polônio? - que veio da Polônia?
Talvez.
É. Parece broma.
Se mesmo o níquel vale mais do que o hélio
Como retirar oxigênio do potássio?
Sim. É preciso ter cálcio.
É preciso ser zircônio neste mundo nióbio e molibdênio.
Ó, metais que rutênios,
Aluminai!
Mora na Filosofia
A casa da Filosofia é azul; a casa da História é verde. Não é que ambas não se pareçam, uma vez que contêm móveis semelhantes. Ocorre, porém, que por terem cômodos de igual tamanho e fachada ao mesmo estilo, podem confundir alguns desavisados que por ali se perdem. Alguns as conhecem bem, as duas; outros preferem apenas uma das instalações, e por isso ignoram o funcionamento da outra, o que não é de modo algum absurdo. Cada lugar tem um cheiro, uma vibração, uma história, uma filosofia, uma cor. O feng shui do conhecimento é mesmo um tanto complicado, pois consiste em botar cada objeto no seu lugar: pantufas de comunista na sapateira em mogno do quarto, pastilhas dialéticas hegelianas ao centro, marxistas à esquerda da despensa. O Amor pertence à Filosofia, enquanto a luta é um objeto da HIstória. Todavia, tais pertenças não indicam que não possa haver empréstimos, ao contrário: dentre as combinações possíveis, a que mais chama atenção - pela sua beleza de monumento - é a do Amor na casa da História, especialmente quando posto ao lado da Luta-objeto. História e Filosofia atestam o vigor e a profundidade de uma longeva amizade entre vizinhos.
Ritos, rituais
"Susa havia lido no 'Banquete' que para ser feliz era preciso amar o Belo, o que certamente agradou à sua consciência libriana. Suponho que deva ter sido um gozo semelhante ao que Pedro, dignamente sujo, sentiu ao ler os 'Contos de escárnio' de Hilda Hilst, 'O erotismo' de Bataille ou mesmo o 'Vigiar e Punir' foucaultiano, quando descreve as torturas."
terça-feira, 10 de abril de 2012
O gênio que virou pó
Cessai de badalar, ó, sinos
Pois é chegada a hora em que o gênio
Criatura esparsa no mundo, gênese
E molécula da substância
Clama dos deuses a atenção
Chama o derradeiro fio de vida capitulando
E desce desce desce
Dançando para baixo agarrado a um tecido
Cessai de badalar, a hora final chegou
O apagar das luzes, sublime cor do avesso
Estende o seu calor, inverno.
Cessa de cogitar, criatura, este rio não corre
Como o fazia em Lamego. Já Caronte veio
Para saudá-lo, senhor de Si, e tua palavra cai
E sobe e ondeia e ladeia
Pois de tua voz sobra, rabo de lagartixa,
O gênio.
Pois é chegada a hora em que o gênio
Criatura esparsa no mundo, gênese
E molécula da substância
Clama dos deuses a atenção
Chama o derradeiro fio de vida capitulando
E desce desce desce
Dançando para baixo agarrado a um tecido
Cessai de badalar, a hora final chegou
O apagar das luzes, sublime cor do avesso
Estende o seu calor, inverno.
Cessa de cogitar, criatura, este rio não corre
Como o fazia em Lamego. Já Caronte veio
Para saudá-lo, senhor de Si, e tua palavra cai
E sobe e ondeia e ladeia
Pois de tua voz sobra, rabo de lagartixa,
O gênio.
quarta-feira, 21 de março de 2012
Visto por dentro
Sempre tive o estranho costume de eleger prioridades, fazer escolhas mais gerais, apontando para um elemento particular absolutamente desimportante, acessório. Assim, de certa forma, entreguei a inócuas causalidades algumas de minhas perspectivas mais promissoras. Que outro desvairado escolheria uma cidade estrangeira para morar em função da existência de um grande time de futebol, ou iniciaria o estudo de um poeta em razão de dois poemas lidos? Para mim, são escolhas absolutamente naturais.
Os nomes nomeiam, têm substância real. Amar é entrega, tudo menos o declarar-se. Se a análise suprime o desejo, que valor vejo em conhecer?
E por que o imponderável grita em mim, se já sabe que será ouvido?
Whitman e a leveza
Definição tomada
de empréstimo. Estamos aguardando
definição. A produção, a fração.
Que segurança em saber
que haverá nas praias guarda-chuvas.
A menor partícula possível da
disciplina espelha a conjunção
que desampara. O inapelável
degredo.
de empréstimo. Estamos aguardando
definição. A produção, a fração.
Que segurança em saber
que haverá nas praias guarda-chuvas.
A menor partícula possível da
disciplina espelha a conjunção
que desampara. O inapelável
degredo.
terça-feira, 13 de março de 2012
Finisseculares
Tarde escura, como um século, cai pesada sobre a noite, lençol da noite. Promessa. E aqueles que sobrevoam o infinito povoam agora a minha estada. Afra, Djalma, Denise. Por que é noite e à noite a vida vem caudalosa, e por isso a morte.
Eu vejo. É um salão amplo, e todos de pé. Hoje mais, não há porém dor nem revolta. Há uma silente música, um ruído de magoazinha. Será Deus?
Eu vejo. É um salão amplo, e todos de pé. Hoje mais, não há porém dor nem revolta. Há uma silente música, um ruído de magoazinha. Será Deus?
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
Les moulins
Mlin
Ovaj grad koji tražite, on više ne postoji. Ovdje su samo ostale neke ruševine. Ono što se desilo je to da neki jak vjetar, neka tužna i nespokojna energija, je ponijela sve što se pomjeralo, i mnogo onoga što nije pokretno. Od pet mlinova, samo su dva ostala.
Ovo je mjesto gdje se snovi ponovo rađaju. Vi već možete vidjeti da se nešto novo gradi, nešto što svakako nismo očekivali. Ne postoji nikakav projekat, prozori niču sami od sebe. Korov i suncokret takođe. Iako je toliko mali, ovaj grad nikad nije bio srećan kao sada, kada je naučio da se učvrsti i proširi do beskonačnosti: to je organizam koji je otkrio svoju misiju u prirodi.
---
Os moinhos
Esta cidade que o senhor anda procurando, ela não existe mais. Aqui restaram somente alguns escombros em pé. O que houve foi que um vento dissipado, uma energia triste e inquieta, levou tudo o que se movia, e também muito do que não se movia. Dos cinco moinhos, só ficaram dois.
Este é o lugar para onde os sonhos vêm para se reabilitar. O senhor já pode ver que algo novo está sendo construído, o que certamente não esperávamos. Não há nenhum projeto, as janelas crescem por si. O mato e o girassol também. Apesar de acanhada, esta cidade nunca esteve tão feliz como agora, quando aprendeu a entranhar-se e expandir-se ao infinito: é um organismo que descobriu sua missão na natureza.
---
The mills
This town which you're looking for, sir, no longer exists. All that stands here is some debris. A dissipated wind, an uneasy energy, has carried everything that moved, and most things that didn't move. Just two mills resisted, we had five.
This is the place where the dreams come to get renewed. You can see, sir, that something is being constructed, which was not expected for us. There's no projects, the windows grow by theirselves, as the brushes and the sunflowers. Despite of being simple, this town hasn't ever been so happy as now, when it learned to be on its own and expand itself to the infinite: it is an organism who found its mission in the nature.
Ovaj grad koji tražite, on više ne postoji. Ovdje su samo ostale neke ruševine. Ono što se desilo je to da neki jak vjetar, neka tužna i nespokojna energija, je ponijela sve što se pomjeralo, i mnogo onoga što nije pokretno. Od pet mlinova, samo su dva ostala.
Ovo je mjesto gdje se snovi ponovo rađaju. Vi već možete vidjeti da se nešto novo gradi, nešto što svakako nismo očekivali. Ne postoji nikakav projekat, prozori niču sami od sebe. Korov i suncokret takođe. Iako je toliko mali, ovaj grad nikad nije bio srećan kao sada, kada je naučio da se učvrsti i proširi do beskonačnosti: to je organizam koji je otkrio svoju misiju u prirodi.
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Os moinhos
Esta cidade que o senhor anda procurando, ela não existe mais. Aqui restaram somente alguns escombros em pé. O que houve foi que um vento dissipado, uma energia triste e inquieta, levou tudo o que se movia, e também muito do que não se movia. Dos cinco moinhos, só ficaram dois.
Este é o lugar para onde os sonhos vêm para se reabilitar. O senhor já pode ver que algo novo está sendo construído, o que certamente não esperávamos. Não há nenhum projeto, as janelas crescem por si. O mato e o girassol também. Apesar de acanhada, esta cidade nunca esteve tão feliz como agora, quando aprendeu a entranhar-se e expandir-se ao infinito: é um organismo que descobriu sua missão na natureza.
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The mills
This town which you're looking for, sir, no longer exists. All that stands here is some debris. A dissipated wind, an uneasy energy, has carried everything that moved, and most things that didn't move. Just two mills resisted, we had five.
This is the place where the dreams come to get renewed. You can see, sir, that something is being constructed, which was not expected for us. There's no projects, the windows grow by theirselves, as the brushes and the sunflowers. Despite of being simple, this town hasn't ever been so happy as now, when it learned to be on its own and expand itself to the infinite: it is an organism who found its mission in the nature.
segunda-feira, 23 de janeiro de 2012
Azul e amarelo
Pela lei do forte, pela ordem
pelo pau no preto, pela rota
Pelo bico, nó na boca
Ave calada, ave calada
verdade escaldada.
pelo pau no preto, pela rota
Pelo bico, nó na boca
Ave calada, ave calada
verdade escaldada.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
A visita ao pier
fui levar um gato preto ao passeio. saímos de nossa casa e ao primeiro big ben entramos
- era uma terra azul bastante desagradável ao toque.
o gato parecia um tanto incomodado, nunca ouvira falar em carrapatos
à fogueira que crescia nos dirigimos
e a beleza nos deu calor
como nada tínhamos, não pudemos dar esmolas
aos poetas e aos executivos famintos
e, caminhando pela música, estacamos
quase próximos ao ponto do pier onde
um casal abraçado chorava
(um belo céu azul menos inconstante do que a terra)
e assim, como sempre, eu e o gato que sequer era meu
nós nos entreolhamos
ele disse cortês, porém atento:
- sim, meu rapaz. é por ires ao pier que te acompanho.
- era uma terra azul bastante desagradável ao toque.
o gato parecia um tanto incomodado, nunca ouvira falar em carrapatos
à fogueira que crescia nos dirigimos
e a beleza nos deu calor
como nada tínhamos, não pudemos dar esmolas
aos poetas e aos executivos famintos
e, caminhando pela música, estacamos
quase próximos ao ponto do pier onde
um casal abraçado chorava
(um belo céu azul menos inconstante do que a terra)
e assim, como sempre, eu e o gato que sequer era meu
nós nos entreolhamos
ele disse cortês, porém atento:
- sim, meu rapaz. é por ires ao pier que te acompanho.
domingo, 15 de janeiro de 2012
Vales
para a pedra
mover-se é fundamental.
uma rocha somente
é um punhado de morte
várias rochas
são a condição eterna, real e irrefutável
da inexistência do homem na pedra
do pequeno homem da terra.
mover-se é fundamental.
uma rocha somente
é um punhado de morte
várias rochas
são a condição eterna, real e irrefutável
da inexistência do homem na pedra
do pequeno homem da terra.
terça-feira, 10 de janeiro de 2012
Açude de Orós
Tenho os olhos mais cheios
do que o Açude de Orós
do que a risada do vencedor
Eu tenho tanta vida,
células na semente,
que não sei bem se caso se fumo
ou se compro uma ilha deserta
Mas eu sei
- quase com certeza -
o que é um sorriso. Este é um
caso
correspondente.
O sorriso são janelas coloridas,
azulejos portugueses
O sorriso é esquecimento
e minha casa lá no alto
Ela abre a janela, eu aceno
olá, alegria, não vire o rosto.
do que o Açude de Orós
do que a risada do vencedor
Eu tenho tanta vida,
células na semente,
que não sei bem se caso se fumo
ou se compro uma ilha deserta
Mas eu sei
- quase com certeza -
o que é um sorriso. Este é um
caso
correspondente.
O sorriso são janelas coloridas,
azulejos portugueses
O sorriso é esquecimento
e minha casa lá no alto
Ela abre a janela, eu aceno
olá, alegria, não vire o rosto.
sábado, 7 de janeiro de 2012
Pareceres
Parece que eu estou fora de moda
Parece que eu perdi o trem
Parece que o tempo não para
Quando para agoniza e mata
Parece que estou fora de tudo,
De todas
Parece que eu não vejo o brilho
Parece que eu não tenho olhos
Parece maldição, quando pego derrete
Pare de me olhar
Parece, eu não sei mais
Só parece
Parece que eu perdi o trem
Parece que o tempo não para
Quando para agoniza e mata
Parece que estou fora de tudo,
De todas
Parece que eu não vejo o brilho
Parece que eu não tenho olhos
Parece maldição, quando pego derrete
Pare de me olhar
Parece, eu não sei mais
Só parece
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