domingo, 18 de setembro de 2011
Falling down, climbing up
A tentativa redime o fracasso? "Bird on a Wire", de Leonard Cohen, é um tributo à redenção de quem, independente do nível de cultivo de auto-indulgência pelos seus atos, considera-os um desajeitado ensaio de vontade. Franz Reichelt, este senhor em preto-e-branco, passou à memória do mundo pela sua ousadia em saltar da torre Eiffel com o que se poderia chamar um arremedo de paraquedas. Os vivos admiram a ousadia ou zombam do fracasso? Quando Ismália enloquecer, certamente ficarão com a segunda opção. Porque é fácil e bonito e desejável estar vivo e ser forte, manter-se do lado de cá da linha, de pé e aquecido.
O que quase ninguém sabe é como é a vista do abismo pelo lado de baixo. Aquele segundo de comoção que envolveu os espectadores do salto final de Reichelt soou como um chicote. As vozes alvissareiras de um progresso in deram lugar a um evento out, curioso somente pela sua fatalidade. O discurso da prudência temperará a nação compadecida, e tantos outros super-homens da Belle Époque teriam preferido olhar da sacada, antes do almoço feito pela esposa. C'est pas mal.
Noventa e nove anos depois, mais um anônimo compassivo se dedicará a resenhar algo sobre aquele fevereiro. E, escolhendo o caminho bege da prudência, elogiará o sábio suicida, mesmo sem ter honrado em seus próprios atos a ambição de Reichelt. Ele salta para fora de sua janela insignificante recordando o verso de Cohen: "I have tried in my way to be free". Fecha o escaninho, guarda as canetas e dorme. São mortes revisitadas, o ensaio de não existir. É hora de dormir, pequeno.
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Eu li isto. Felizmente.
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